Aldeia Estrela do Oriente

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Iansã

Iansã. Senhora dos Ventos. Rainha do Fogo, dos Astros, Coriscos e Trovões. Senhora das Tormentas e das Tempestades. Rainha dos Raios. Deusa dos Relâmpagos. Senhora das Nuvens de Chumbo. Amiga do Tempo. Dominadora dos Eguns. Encaminhadora das Almas.

Levaríamos uma página apenas para descrever os títulos comumente atribuídos a Iansã, que também é conhecida como Oyá.

Mas afinal, quem é Iansã?

Iansã é a Orixá intempestiva. Sua natureza é incandescente, furiosa, selvagem, indomável, natural, livre. Ela manifesta e experimenta a própria essência.

Esta, que é uma das Senhoras que mais ancoram a Força Primal Feminina é, curiosamente, dentre as Iabás (Orixás “femininos”), uma das que mais “conversa” com a Força Primal Masculina manifestada pelos Orixás “masculinos”.

Mas, afinal de contas, deveria haver alguma divisão ou separação entre a Força, se na essência ela é Primal?

Como Iansã se manifesta e se comporta dentro dessa zona tão limítrofe entre o Yang e o Ying?

Dizemos que Iansã simplesmente não se importa com essas questões filosóficas.

Iansã É. E Ela é, antes de qualquer título heróico, a Orixá da AUTENTICIDADE.

A autenticidade leva ao poder pessoal, porque ser autêntico indica a capacidade de um ser em estar harmonizado e agindo conforme sua essência e seu Propósito, e isso é a própria manifestação da Divindade Primordial.

Iansã é livre; livre para ser quem Ela É. Livre para ser a Deusa. E ela será a Deusa, nem um pouco preocupada com julgamentos de qualquer espécie, conforme demonstram as lendas sagradas.

Nesse sentido, ela se torna as próprias potências da natureza; criadoras e destruidoras. Sempre ágil e rápida, Iansã simboliza o potencial de transformação, iluminação e conscientização do ser humano por meio do imprevisto. E Iansã demonstra a profunda Sabedoria que existe dentro daquilo que chamamos de “imprevisto” ou “fluxo”.

Iansã é faísca que dá início ao fogo que transforma; que leva o grão de feijão, duro e cru, a ser cozido e se transformar em alimento nutritivo e saboroso; Iansã é Alquimia.

Iansã é o tornado, o vendaval; ela reduz ao nada tudo aquilo que perdeu o Propósito e não serve mais em nossas vidas. Mas, como um bom tornado, ela convida em algum momento à calmaria e reflexão, o conhecido olho do furacão, trazendo consciência sobre todos os processos de transformação para que não se percam. Iansã é a Natureza.

Iansã é o Raio e o Relâmpago no meio da noite e da escuridão; ilumina o suficiente para enxergarmos nossas Sombras e nossos inconscientes, os hologramas aprisionantes do Ego. Iansã não faz nosso trabalho por nós, contudo. Ela vem e vai rápida como o relâmpago, ela ilumina e traz consciência. Iansã é a Física e também a Psicologia.

Iansã é a faísca da paixão; ela dá a primeira liga entre os elementos químicos, e assim como aos seres viventes, para que experimentem as possibilidades mais harmônicas e mais transformadoras das relações. Iansã é a Química.

Iansã é a ousadia. A ousadia de ser quem ela é, autêntica, zombando dos rótulos. Iansã é a Verdade da essência.

Iansã é o atrevimento também, de se transformar, livremente, sem se importar com o que as pessoas pensam sobre quem era e sobre quem vai se tornar. Iansã é a evolução do Propósito.

Iansã é a essência da Alquimia, manifestada nas lendas como uma borboleta, simbolizando a capacidade de nos libertarmos, voarmos e transformarmos a nós mesmos em versões melhores e mais belas de nós (e uma versão melhor de nós mesmos sempre está alinhada ao Propósito Divino).

Iansã faz o que dá na telha, porém Ela jamais viola o Propósito para o qual foi criada; Iansã é a própria Sabedoria na experimentação do Livre Arbítrio, algo que muito nos faz falta.

Se a natureza selvagem de Iansã causa algum dano, esse dano é apenas aos “hologramas”, à ignorância, à corrupção, à mentira e à ilusão; seus chifres de búfalo anunciam um golpe certeiro e a vitória da Consciência contra as Trevas.

E é Iansã quem ancoramos quando precisamos enxergar nossas Sombras com audácia e coragem, integrando-as às nossas Luzes; ela é tanto a faísca de consciência quanto a energia inicial que nos impulsiona e diz, VÁ! SEJA! EXISTA! TRANSFORME-SE!

Por isso ela é conhecida como a “encaminhadora dos Eguns” (termo que designa, dentre outros significados, “espíritos perdidos”, aqui entendidos tanto os espíritos perdidos e extraviados dos chamados “mortos” quanto dos chamados “vivos”). Ela ilumina o rumo, o caminho, e o que precisa ser trabalhado na jornada.

Iansã, ligada profundamente não só ao elemento Fogo mas também ao elemento Ar, é guardiã dos nossos pensamentos e do que fazemos dele; de como fazermos bom uso do raciocínio e da inteligência, dos conhecimentos que recebemos e sua conversão prática em consciência e evolução.

Iansã é o impulso (sempre o impulso, a faísca) divinamente correto ancorado pela inteligência e pela mente (embora esses sejam atributos de Oxóssi), e nos ensina a perceber quando as buscas intelectivas e por conhecimentos se tornam vãs e vazias, corrompidas, combustíveis da mentira interior, bem como de ideologias fracassadas; quando não conseguimos converter o “saber” e o Despertamento em atitude, em ação, em prol da própria melhoria e da melhoria da Mãe Terra, da evolução do coletivo.

Quando a mente deixa de ser uma aliada para se tornar distração; quando os aprendizados são distorcidos e não se convertem em verdadeira transformação e atitude que possam nos religar à Fonte e ao Propósito, Oyá Tempo pode atuar para paralisar a espiral de loucura e destruição, paralisando no Tempo a criatura que estiver extraviada até que esta tenha condições de voltar a utilizar suas capacidades dentro de um propósito evolutivo e não destrutivo para si e para os outros.

Como amiga do Orixá Tempo, ela possui o poder de paralisar e ativar, modular e conduzir toda a perspectiva humana de tempo. Este poder ela adquiriu e exerce porque, dentre de toda a sua onipotência, ela é humilde; como um ser que não aceita ser dominado, Oyá também não pretende dominar o Tempo, e é por isso que o Tempo se permite ser conduzido por Iansã.

Iansã é uma amiga de Oxalá. Em uma certa lenda, o Senhor da Fé enxergou em Oyá toda a sua magnífica essência mas percebeu que ela não estava sendo capaz de compreender e lidar com seu próprio, nem de viver manifestar plenamente seu propósito.

Oyá vivia e manifestava apenas revolta, uma revolta dolorosa que explodia dentro de si.

Por isto, Oxalá enviou Iansã para viver com Oxum. As duas se tornaram grandes amigas e foi através do Amor de Oxum que Oyá foi capaz de amar a sua própria essência e aplicar sua natureza em Amor à humanidade.

Assim, Iansã compreendeu o seu Propósito.

Por estes motivos que Iansã é a Vencedora de Demandas; não há demônio interno ou corrupção que resistam ao relampejar de Oyá.

Ela é a Senhora do Poder pessoal, do empoderamento real e verdadeiro, e não do falso “empoderamento do ego”.

Não poderia ser diferente. Afinal, Iansã é Consciência. Consciência é Amor; E só Consciência e Amor são o Poder. Iansã é o relampejo do Eu. E esses elementos não são e nunca combinarão com o Ego.

Epahey Oyá!

Texto original de Leo Estelrich para Aldeia Estrela Azul do Oriente

Reprodução e compartilhamento permitidos desde que creditada a fonte original.

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