Obaluaye
Qual é o jovem que não nutre o desejo de ser adulto?
Qual é o idoso que não deseja, ao menos por alguns momentos, voltar a experimentar a juventude?
Obaluaye é UM Orixá, mas duas facetas da mesma moeda, que vem carregando diversos paradoxos.
Inocência e desconfiança; vida e morte; saúde e vitalidade; jovialidade e vitalidade; energia vital e a falta dela.
Senhor dos Paradoxos, por excelência; não poderia ser diferente, visto que é um dos Orixás que mais ancoram o poder de transformação, um poder vital e necessário dentro dos domínios e ensinamentos da experiência da Dualidade deste Universo.
É o Senhor que conduz ao Céu e ao Inferno; ele não julga (afinal, esse é o domínio de Xangô). Ele apenas “cria”, conforme o que foi co-criado por cada ser.
Cocria Umbrais e Colônias Astrais. Paraísos e Infernos; Vitória e Derrotas; Paraísos e Prisões.
Obaluaye apenas transporta a energia vital de uma dimensão para outra.
“Céu” e “Inferno” são criações bastante “humanas” baseadas no uso, de forma mais ou menos sábia, do poder do Trono deste Orixá.
É interessante que esse Trono seja tão paradoxal. Que Omolu seja o Senhor da Morte e da Kalunga (os “cemitérios”, físicos e não fisicos) e dos piores umbrais astrais; e, ao mesmo tempo, que Obaluaye seja Senhor da Vida e da reparação, da cura, das cidades astrais purificadas que nos reconectam ao nosso Eu e ao nosso verdadeiro Propósito.
Ao mesmo tempo, Omolu é Senhor da Morte em Vida, quando transformamos a oportunidade da encarnação em derrota e desperdício de oportunidade, “vivendo” tais quais mortos, zumbis e alienados.
E Obaluaye é Senhor da Vida em Morte, trazendo à Vida a oportunidade de “matarmos” tudo aquilo que afronta nosso Eu Superior em uma terceira dimensão dura e alienada, ancorando a possibilidade de vivenciarmos o Amor e, assim, vivermos plena e eternamente, não importa em qual dimensão.
Paradoxos.
O que é a Dualidade se não a transmigração de uma Alma de um ponto do espaço-tempo para outro? O que é a Dualidade se não a exploração das oportunidades e o aprendizado?
Obaluaye não atua dentro de um juízo de valor, como Xangô, e mesmo assim, atua intimamente ligado a ele. Afinal, todo e qualquer Orixá carrega a virtude da Consciência.
Esse Orixá, conhecido na essência integrada de seus dois aspectos (Omolu e Obaluaye) como Xapanã, é um dos que mais ancoram a dicotomia da Dualidade; é um do mais filosóficos, capaz de ancorar uma “Filosofia” (Amor conectado à Sabedoria) dentro de alto grau de pureza.
Os seres humanos “temem” infinitamente a Morte, assim como as doenças (que levam à morte), regidas por Omolu. E “adoram” a Vida e as possibilidades de cura e prevenção, regidas por Obaluaye.
No fim, são apenas uma única força. Obaluaye nos catapultam, alternadamente, entre certos domínios da Dualidade até que possamos integrá-las em Xapanã.
Esse Orixá, em sua faceta Omolu, chacoalha, convulsivamente, demonstrando em sua dança um frenesi perante aquilo que deve ser expulso; é uma reação do Eu à doença, àquilo que precisa ser extirpado, o peso que deve cair dos ombros. Um convite e uma celebração à morte daqueles aspectos que não servem mais à evolução de um ser.
Ranzinza, impaciente, não é nada tolerante com o vitimismo tipicamente humano, uma vez que ele mesmo atingiu a maturidade após ter experimentado as piores dores “humanas”.
É a própria Morte, o Omolu Ceifador, Saturno / Cronos, ligado ao Tempo e também a Plutão; irá ceifar e castrar o que não serve mais, no campo individual e coletivo, sem dó e falsa indulgência.
Omolu é um destruidor de hologramas por excelência e, nesta faceta, não demonstra misericórdia porque não é a função dele; convulsiona, treme, range, e expulsa as mazelas e doenças de qualquer natureza…. Coberto de palhas mitológicas, que encobrem suas chagas simbólicas, ele chacoalha para retirar de seus ombros a doença e os obstáculos emocionais, mentais, físicos e emocionais.
É o Senhor da Morte, castrando todos os obstáculos à evolução; Senhor da Kalunga (cemitério), Senhor dos Exus e Pombagiras. As magias negras não resistem ao poder infinito de Omolu, porque ele é o dissolvedor das trevas e dos hologramas que geram nas pessoas a necessidade de ativarem qualquer forma de magia negativa.
Ele é Aquele que devolve uma Alma ao lar em que deve estar para evoluir e isso demonstra que, sendo Senhor da Morte, é Ele também o Senhor da Vida.
Os Xamãs, que enfrentam muitas Vidas e muitas Mortes em uma única vida terrena, trabalham sempre, não importa a cultura, com o mistério que esse Orixá carrega.
E então vemos sua outra faceta, tão verdeira quanto a anterior, que é Obaluaye.
Obaluaye, a manifestação mais jovial de Xapanã, mais vigoroso, alegre e bondoso. É o próprio Senhor da Vida e da Cura, da vitalidade.
Diz-se nas lendas que Obaluaye, embora tipicamente encoberto pelas palhas, é o mais bonito dos Orixás. Foi revelado apenas pela audácia de Iansã (Iabá que ancora a força transformadora que revela os mistérios da Vida), que soprou as palhas sob as quais ele se oculta e viu sua real face.
Esta faceta de Xapanã, Obaluaye, carrega portanto o poder da Vida. Da criação. Do amor e da esperança. O alívio de deixar para trás toda dor e sofrimento; a alegria de seguir em frente, de se reinventar, livremente, como jovem, de explorar o Universo.
Ele carrega o mistério da cura e da vitalidade; ele também sabe, melhor do que ninguém, que ele também é Omolu; ninguém precisa recordá-lo disso.
Traz misericórdia, compaixão e compreensão para com todas as dores e doenças, de qualquer natureza.
É um grande curador de todas as dores, invocado para auxiliar em todos os tipos de adoecimento físico, emocional, mental e espiritual; é muito paciente, amoroso e compreensivo. Sua infinita sabedoria e amorosidade o ligam diretamente à Hierarquia dos Pretos Velhos.
Ele dá aos seres a benção da oportunidade de se reinventarem. De viverem uma nova vida. Sua dança é suave, e mesmo nessa suavidade, ele não deixa de honrar seu lado Omolu, embora seja mais leve. Afinal, esse Orixá é o antimaniqueísta por excelência, é integrado.
É o Senhor da Vida, que concede a cada ser uma nova oportunidade; seja de renascer na Terceira Dimensão, como um bebê, seja de renascer várias vezes em uma mesma vida, assim como os Xamãs fazem após os processos de Morte de conteúdos psíquicos negativos, regidos por Omolu.
Um fato é que, para a Obaluaye, o renascimento é sempre verdadeiro e honesto, autêntico; ele é o próprio Kíron, o Deus Centauro da mitologia grega, disposto a encontrar uma cura para tudo aquilo que o separa da Fonte e a encontrar uma oportunidade de usufruir da criação de forma livre e saudável.
O nascimento é, portanto, uma nova oportunidade. Por favor, compreendam e ancorem esse Orixá em sua pureza e não tentem reeditar os mesmos erros do passado; essas falhas, Omolu cortou e Obaluaye não deseja mais experimentar; ele traz a oportunidade de cura real e evolução.
Este é Xapanã. Senhor da Vida e da Morte. Da cura e das doenças. Senhor das transformações e da esperança.
Um dos Senhores que integram as múltiplas facetas da espiritualidade e do psiquismo humano.
Quantas oportunidades não experimentamos negativados, aprendendo através das forças sombrias e destrutivas?
E quantas oportunidades não experimentamos positivados, aprendendo através das forças luminosas e construtivas?
Entretanto, essas oportunidades são passadas. Esta é a era da Transição, e esta Transição aqui de Gaia, em particular, é baseada na INTEGRAÇÃO.
Esta é a Era de XAPANÃ.
E a Era de Xapanã não significa em nos acomodarmos em erros e acertos, em experimentarmos morte e vida ao mesmo tempo; talvez até experimentemos em um momento inicial esses aspectos de forma polarizada, mas somente para compreendê-los; não se identifiquem!
A INTEGRAÇÂO de XAPANÃ significa compreendermos, de uma vez por todas, que Morte e Vida são só hologramas de experimentação e aprendizado; somos ETERNOS e, neste Universo, a evolução é e sempre será ascendente.
E, neste Planeta Terra, a experimentação será por meio da INTEGRAÇÃO.
E INTEGRAÇÃO é maior do que a soma das duas realidades anteriores que lhe deram origem.
Simplesmente permitam-se vivenciar algo maior que as expectativas e pseudo saberes do Ego.
E permitam que Obaluaye, em seu silêncio, te transformem e te levem além dos domínios da Vida e da Morte.
Atotô!
Texto original de Leo Estelrich para Aldeia Estrela Azul do Oriente
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