Oxum
Oxum não é conhecida como a Senhora da Magia à toa. É a Iabá responsável por ancorar os sentimentos e as emoções, o Amor, um dos combustíveis fundamentais da Criação e, consequentemente, de qualquer forma de magia positiva.
As lendas revelam que Oxum não se tornou Senhora do Amor e da Magia por acaso. Esse tipo de conhecimento nunca é adquirido de graça, e as lendas de Oxum são um lembrete vivo do caminho indicado pela Fonte para resolvermos os mistérios que enfrentamos na manifestação da fisicalidade e nos tornarmos portadores de um saber (no caso, o “saber” do Amor e da Magia).
Mas não se trata da simples aquisição de um poder ou saber; trata-se, na verdade, de despertá-lo, e isso somente pode ser realizado através dos ritos iniciáticos, sejam eles religiosos, sejam eles a própria vida.
Pois bem, Oxum, Deusa e mulher, passou por todos os ritos. Para poder conhecer todos os mistérios do Amor e da Magia, ela conviveu, de forma profunda e íntima, com a maioria dos Orixás, com os seres humanos e, principalmente, com os elementos da natureza.
Suas experiências não foram nada fáceis mas, em momento algum, ela corrompeu a sua essência: o Amor e a Magia já estavam nela. Suas experiências dolorosas no Amor e na Magia serviram para liberar todo o seu poder e seu Trono escondidos, ao mesmo tempo em que a recordavam, na fisicalidade, de que os puros atributos divinos estavam escondidos nela – nada, nem o sofrimento, poderia corrompê-la.
E ao falarmos de Amor e Magia, incorruptíveis, não devemos entendê-los como se fossem atributos distintos; toda Magia decorre do Amor e mesmo a chamada magia negra decorre do oposto do Amor. Portanto, o Amor é a Mãe da Magia.
Oxum compreendeu tudo isso e muito bem. Nas lendas, assim como na vida real, Oxum costuma ser em muitos momentos subestimada por conta do seu caráter afetivo e emocional; em um mundo onde os afetos foram rebaixados a aspectos primitivos, indesejáveis e desprezados, é fácil de perceber o motivo de Oxum não ser considerada “inteligente” como “tantos outros Orixás”.
Mentira. Trata-se de uma das mais inteligentes e espertas potências dentre todos os Orixás. É a Iabá que cuida da Inteligência Emocional, por excelência. E, em se tratando do Planeta Gaia, em que a proposta de evolução se dá pela experimentação dos relacionamentos e da afetividade, podemos compreender a importância central de Oxum na Nova Terra, ao sustentar as formas de Amor e demais emoções não corrompidas e o combate ativo para a destruição dos hologramas de aprisionamento vinculados à afetividade, uma proeza que só se consegue através do desenvolvimento da Inteligência Emocional, a Arte que Oxum domina por excelência.
Nas lendas, Oxum adquire um vasto conhecimento e sabedoria a partir dos contatos (ou seja, das relações) que estabelece com os demais Orixás. O que mostra que o Amor e a Sabedoria estão intimamente ligados, assim como na Chama Trina.
Não apenas isso. Oxum adquire ferramentas e conhecimentos que antes eram privativos de cada Orixá, e passa a compartilhar com esses Orixás as ferramentas que eram apenas deles.
Isso demonstra a dinâmica das relações que Oxum rege e a importância das trocas. Relacionar-se é aprender e se tornar portador de um mistério, de uma Medicina, que antes era privativo e que em uma relação torna-se, em certa medida, compartilhado.
No mesmo contexto, os Orixás tornam-se dependentes, em certa medida, da boa vontade de Oxum (por sorte, ela está com boa vontade na maioria das vezes). E o que isso simboliza se não o seguinte: qualquer conhecimento, qualquer ferramenta, qualquer virtude depende de um Amor presente, experimentado e vivido, para que se manifeste de forma Verdadeira dentro do Propósito Maior.
É exatamente isso. O Amor encontra dentro do Saber a sua significância, e também dá significância ao Saber. O Saber existe em função do Amor e por ele precisa ser ativado; sem Amor, ele não é ativado na sua forma Verdadeira, segundo o Propósito.
Eis aí mais uma faceta da incrível simbiose entre os raios da Chama Trina.
Oxum é a responsável por semear a Nova Terra com uma nova amorosidade, livre da Corrupção Emocional; não é à toa que esse Arquétipo da Deusa vem sendo tão preservado ao longo de eras.
Oxum é Mulher Deusa e Humana e representa a essência emocional de todos nós, mulheres e homens; é inocente, ingênua, complacente, como o Amor deve ser; é também inteligente, esperta e sagaz, como o Amor deve ser; é poderosa, mágica e incorruptível, como o Amor deve ser.
Oxum leva à compreensão de que sem Amor não existe Universo (ao menos, este Universo).
Oxum, por ser o Amor, dá significado a todos os outros Orixás.
Oxum, exatamente por ser o Amor e ser os afetos, é a Senhora da Magia.
É a humanidade de Oxum e a sua incrível capacidade de empatia que fez com que essa manifestação da Deusa seja hoje uma das menos corrompidas.
Porque Oxum jamais desiste. Ela conserva o propósito e a pureza dela em si, foi por isso que a Fonte se irradiou, a Si Mesma, na Divina Figura de Oxum. Não importa o quanto ela “sofra”. O quanto ela seja subestimada, usada, tentada, enganada, Ela estará lá, fazendo o que precisa ser feito, com Amor. Porque o Amor nunca erra; o Amor sempre é Verdade.
E o Despertamento, em qualquer área da vida, depende de Oxum. Prosperidade, em qualquer área da vida, depende de Oxum; prosperidade essa que não é nada além de uma infinita e saudável colheita, em qualquer aspecto e capaz de abastecer o ser humano de Propósito, oriundos das sementes plantadas com Amor e com o melhor dos afetos por Oxum.
Portanto, não devemos desprezar o Poder de Criação da Senhora do Amor em qualquer Magia; sem Amor, a Magia não possui sentido algum. E tudo aquilo que não possui e não cumpre um Propósito no Universo, deixa de existir em algum momento.
Oxum muitas vezes é representada se admirando em um espelho, o que nos recorda que ela também é a Deusa do Amor Próprio. Oxum é um convite à auto-estima. E ela sempre nos concede seu espelho quando precisamos resgatar este Amor dentro de nós.
Somente o Amor abastece o Universo de Propósito. Ore Yeye O, Oxum!
Texto original de Leo Estelrich para Aldeia Estrela Azul do Oriente
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