Umbanda
Xamânica
Há mais de
100 anos, a Umbanda vem confortando corações de seres humanos em praticamente todas as áreas
A Umbanda é uma religião genuinamente brasileira, ancorada no plano físico no dia 15 de novembro de 1908 pelo Caboclo das 7 Encruzilhadas, atuando em nome do Governador Sananda (O Cristo, representação do Orixá Oxalá) e dos Altos Dirigentes Espirituais do planeta, através da mediunidade de Zélio Fernandino de Moraes.
Nasceu muito simples e cristã, contando com a enorme influência do Espiritismo de Allan Kardec, da pajelança brasileira, dos ritos de diferentes tribos africanas que ganharam novos estilos no Brasil e da antiga magia praticada na Europa.
Esses primeiros elementos foram trazidos pelos espíritos designados para atuar nas Falanges de Umbanda estruturadas no Astral naqueles tempos, até hoje conhecidas como as 3 Linhas Primárias de Umbanda (Caboclos, Pretos Velhos e Crianças).
Por essas e outras razões, e mesmo tendo se estruturado e sendo reconhecida ao longo do tempo como uma religião, a Umbanda já nasceu xamânica, contemplando o que os antropólogos e especialistas no assunto compreendem como elementos básicos do Xamanismo em qualquer de suas vertentes: (i) a crença em uma Divindade que se manifesta e se revela através da sua própria Criação; (ii) a busca por estados alterados de consciência que permitam acessar realidades multidimensionais; e (iii) ausência de uma sistematização como livros de fé (assim compreendidos como aqueles que lançam as bases doutrinárias de uma determinada religião).
Xamânica e brasileira, a Umbanda, até por ser essa a ideia dos Altos Dirigentes Espirituais, sempre teve forte inclinação para acolher o novo, as diferenças entre os seres, absorver e integrar culturas e diferentes técnicas e abordagens espirituais e filosóficas. Mais do que mera inclinação à tolerância, faz parte da própria essência da Umbanda o princípio da Integração.
Ao longo das décadas, estruturaram-se na Umbanda os trabalhos da Esquerda (os Guardiões, conhecidos como Exus e Pombagiras, presentes na Umbanda desde seu início) e somaram-se às fileiras do General Ogum falanges importantíssimas como as Linhas dos Baianos, Boiadeiros, Marinheiros, Ciganos e Povo do Oriente, dentre outras.
Há mais de 100 anos, a Umbanda vem confortando corações de seres humanos em praticamente todas as áreas possíveis de aflição, em um indistinto trabalho de amor e fraternidade. Conforta mães e pais preocupados, encurta a distância entre pessoas que partiram para as outras dimensões e aquelas que ficaram, encoraja os seres a serem resilientes, perseverantes, honestos e fraternos; movimenta os elementos a fim de favorecer a mudança nos padrões densos que impedem as pessoas de se realizarem profissionalmente ou encontrarem seu sustento, fonte de grandes angústias.
Mas, nem de longe a missão da Umbanda se resume apenas a acalentar corações machucados: sua função é também de orientar, ensinar, aprimorar o campo cultural dos seres humanos, o campo filosófico e espiritual, de modo que aqueles que têm a alegria de entrar em contato com ela possam sempre sair renovados, orientados sobre as manifestações do Divino na natureza e sobre como utilizá-las em prol do progresso humano.
Como tudo no Universo, a Umbanda também passa por seus ciclos de nascimento, crescimento, maturidade, decadência, morte e renascimento. Nos últimos 100 anos, a Umbanda atravessou por 5 dessas 6 fases, sendo que, em vários momentos, elas se misturam e ocorrem simultaneamente.
A Umbanda nasceu com seu ancoramento. Cresceu, sob fortes lutas, suor, sangue e lágrimas do povo que veste branco. Alcançou sua maturidade e grande abertura entre o povo brasileiro em geral, graças ao trabalho da Espiritualidade que agiu por meio de expoentes valorosos como Pai Ronaldo Linares e Rubens Saraceni e tantas outras pensadoras e pensadores de Umbanda.
Passou também pela decadência, bastante nítida para o Povo do Santo: instalou-se a negligência espiritual e a preguiça para se levar a cabo os trabalhos de autotransformação espiritual; líderes e participantes se congelaram no tempo e no espaço, apegados a certos costumes e visões antigos que não contemplam mais em nada a evolução e as necessidades dos seres humanos como um todo.
A Umbanda nasceu com seu ancoramento. Cresceu, sob fortes lutas, suor, sangue e lágrimas do povo que veste branco.
Instalou-se uma cultura de dependência absoluta e cega nos líderes materiais (mães e pais de santo) e nos guias, ao ponto que as pessoas passaram a recorrer à Umbanda viciosamente, por motivos muitas vezes frívolos, sem se preocuparem com o melhor que a Umbanda poderia favorecer.
Como em muitas outras religiões, instalou-se o repasto da vaidade e do fomento ao ego, travestido de espiritualidade na qual, em nome dos Orixás e dos Guias (estes, completamente desapegados), muitos irmãos cultuam a imagem, a aparência e as competições.
A responsabilidade recai, sobretudo, sobre muitos dos líderes espirituais, ao ignorarem os apelos de seus Guias. Despreocupados da vaidade em si mesmos e afeitos ao egoísmo, incentivaram e incentivam nos médiuns e frequentadores a perpetuação de seus próprios vícios, a dependência, a ignorância, a falta de apreço pelos estudos e pelo exercício filosófico; a fraternidade foi sendo substituído pela caridade gélida, como estátuas de mármore: representações de algo belo, mas sem vida.
Os Buscadores, entretanto, atingidos em cheio pelo processo de Despertamento que, tal qual uma tempestade de Iansã, varre o planeta, já não estão mais cegos a essa realidade. As máscaras espirituais, por tanto tempo cultivadas, já não escondem mais nada.
Na Umbanda Xamânica, o som, a música, a dança, a cor, mas também o fogo, a água, a terra e o ar, as ervas, os animais têm seu espaço. O respeito por todos os seres da criação e o trabalho de conexão com a Teia da Vida são fundamentais.
Nesse processo, o Povo de Santo, assim como outros tantos Buscadores espirituais sinceros, veem-se órfãos, confusos, colocam sua própria espiritualidade e fé em xeque, diante das piores barbaridades praticadas em nome da Umbanda.
Quantos não foram e não estão sendo vítimas nas mãos de líderes insensatos, dos tiranos materialistas disfarçados de emissários de Oxalá? Esse é um mal que assola a todas as religiões e a Umbanda não está livre dele.
Confusão, quebra de máscaras, desespero, ceticismo, Despertamento, emergências espirituais, destruição de paradigmas, necessidade de definitiva transmutação pessoal e espiritual, tudo junto e misturado, esta é a era de Transição Planetária na qual vivemos.
Contudo, tal qual a forte simbologia encerrada pela Runa Othala, o fim de um ciclo sempre encerra grandes aprendizados e leva a um recomeço cujo ponto de partida em muito se assemelha ao ponto de partida anterior. Em um Universo onde nada verdadeiramente perece, apenas se transforma e se recicla, o resgate das raízes e da história sempre cumpre um grande papel na criação do novo.
Seja para reaproveitarmos algo de bom sob nova roupagem, seja para evitarmos os mesmos erros, seja para nos inspirarmos a criar algo novo, sempre é sábio revisitarmos nossas raízes.
E a raiz da Umbanda é raiz de Jurema, raiz poderosa, raiz inquebrantável.
Raiz de Umbanda é raiz xamânica.
Neste contexto, no início de 2016, os Caciques Pena Branca e Cobra Coral, representando um grupo espiritual denominado Estrela Azul do Oriente, composto por mestres e guias do Ocidente, do Oriente e de outros mundos que atuam na Transição Planetária e nos processos de Despertamento, apresentaram a um grupo de Buscadores espirituais uma proposta para ancorar no plano físico uma Aldeia, representando aquela tribo espiritual, na qual seria praticada uma Nova Umbanda, uma Umbanda Xamânica, de caráter universalista.
Na Umbanda Xamânica, busca-se resgatar nossa relação com os seres da natureza e a constatação de que a Fonte Una se irradia em diversas frequências na Criação; as Falanges de Umbanda têm seu lugar, ao mesmo tempo em que se resgata a sabedoria de outros povos ancestrais, suas medicinas, seus mitos arquetípicos, suas ferramentas de cura.
Na Umbanda Xamânica, o som, a música, a dança, a cor, mas também o fogo, a água, a terra e o ar, as ervas, os animais têm seu espaço. O respeito por todos os seres da criação e o trabalho de conexão com a Teia da Vida são fundamentais.
A Força dos Sagrados Orixás é convocada para auxiliar os Buscadores em seus processos de Despertar. Nas Giras de Umbanda Xamânica, os Buscadores são convidados a compreenderem e imergirem nessas forças, para que elas emerjam de dentro deles, auxiliando em seus processos de integração.
Os Guias não se colocam mais como tutores, pois apenas os incapacitados são tutelados. Ao contrário, os Guias nos colocam como seres capazes em processo de Despertamento, aptos a dar um passo além na compreensão da verdade universal e a experimentá-la, por nós mesmos
Na Umbanda Xamânica não há mais espaço para o vitimismo, tampouco para o corrompido entendimento sobre a Lei Universal de Karma e Dharma.
As antigas consultas estão sendo substituídas por conversas de teor profundo, sem o peso da relação “ser superior x ser inferior”, por tanto tempo cultivada e estimulada. Em vez de velhas receitas mágicas prontas para resolver o problema das pessoas, os Guias levam os Buscadores a despertarem seus próprios poderes de realização, orientando-os na jornada íntima de encontro com seus verdadeiros “Eus” e Missões de Alma. Afinal, ninguém está imerso neste planeta, nesta época de Transição Planetária, à toa.
Na Umbanda Xamânica não há mais espaço para o vitimismo, tampouco para o corrompido entendimento sobre a Lei Universal de Karma e Dharma. Em vez disso, há espaço para as lições de redenção pelo amor e pelo próprio trabalho de Despertamento. Há lições sobre o Caminho do Meio, sobre as Sombras e sobre a Luz, e a necessidade de integrá-las para que o Eu Verdadeiro e integrado desperte com todas as suas potencialidades.
Há espaço para os Orixás e também para Mãe Búfalo Branco, para os Animais Totêmicos, para Shiva, Shakti, Kali, Kwan Yin, Mãe Maria, Mestre Sananda, Mestres da Fraternidade Branca e muitos outros seres e egrégoras afeitos ao caráter Universalista.
Mas não há espaço para a mistificação, idolatria ou ignorância. Uma vez que o Universalismo não se trata nem de longe de uma mera salada de frutas, todas as energias, egrégoras e falanges, com suas funções, são explicadas aos Buscadores, que são convidados a conhecê-las.
Muitos pontos de luz com propostas semelhantes têm surgido nos últimos tempos e isso é motivo de orgulho.
Na Aldeia, estamos apenas no início da jornada de construção da Umbanda Xamânica e há uma longa caminhada pela frente, e isso que é o mais fascinante!
Como dizem os Guias, são os Buscadores, e não apenas os “médiuns”, que auxiliarão no processo de ancoramento da Nova Umbanda, que já existe no Astral, no plano físico.
Leo Estelrich e Robs Alves
Dirigentes da Aldeia Estrela Azul do Oriente